A prática esportiva, seja em forma de atividade física aguda ou crônica, e em esportes de modalidades competitivas, provoca extensas adaptações em órgãos e sistemas corporais. Com o avanço da ciência, é possível se compreender uma conexão entre rendimento esportivo e a metabolômica, estudando de forma sistemática todos os metabólitos corporais e o quanto influencia no metabolismo atlético e no desempenho. Tal relação traz uma nova abordagem em estudos, chamada de esportômica.
Metabolômica: um olhar para as diferenças metabólicas de atletas
Pode-se definir a metabolômica como a medição simultânea de metabólitos de baixo peso molecular que participam como substratos, reagentes, agentes sinalizadores, intermediários e produtos de reações mediadas por enzimas. Tais metabólicos induzem a respostas diferentes em cada indivíduo, seja em vias energéticas, na modulação inflamatória ou até mesmo no metabolismo de glicose, proteínas e gorduras.
Uma revisão sistemática feita por Sakaguchi et al. (2019) forneceu uma avaliação qualitativa de 24 estudos baseados em metabolômica explorando alterações induzidas pelo exercício do metaboloma humano. Desses artigos, 63% focaram em alterações agudas de metabólitos após exercícios intensos e prolongados. Tais trabalhos relataram grandes mudanças em diversos metabólitos relacionados a lipídios, aumentando duas vezes ou mais dentro de algumas horas após o exercício. Algumas mudanças de metabólitos, mesmo após esportes extenuantes, geralmente retornam a níveis próximos ao pré-exercício após um dia de recuperação.
Os resultados avaliados na revisão citada acima indica que uma sessão de exercício prolongado e intensivo provoca grandes alterações em vários metabólitos relacionados aos lipídios, sendo que um estudo avaliado com atletas se exercitando intensamente por mais de duas horas, mostrou aumentos significativos em pelo menos 300 metabólitos identificados, dentre eles, ácidos graxos de cadeia média e longa, corpos cetônicos, produtos de oxidação de ácidos graxos e ácidos biliares sulfatados. Em contrapartida, ao mesmo tempo ocorrem diminuições relacionadas nos ésteres de triacilglicerol plasmáticos, ácidos biliares primários e secundários e fosfolipídios menores, como lisofosfatidilcolinas e lisofosfatidiletanolaminas. A maioria dessas alterações nos metabólitos plasmáticos após exercício atinge seu status depois de algumas horas, e são diminuídos em pelo menos um dia de recuperação.
Adaptação fisiológica em atletas e análise da metabolômica
A identificação de marcadores que demonstram a adaptação individual de cada atleta durante o treinamento de qualquer modalidade esportiva se torna possível com o estudo dos metabólitos na metabolômica.
Em estudo realizado por Quintas et al. (2020), avaliou a associação entre a carga externa e o metaboloma urinário como substituto da adaptação metabólica ao treinamento de jogadores de futebol. Os modelos estatísticos (PLS) identificaram metabólitos de hormônios esteróides, metabólitos de hipoxantina, aminoácidos acetilados, intermediários no metabolismo da fenilalanina, tirosina, metabólitos do triptofano e riboflavina entre as variáveis mais relevantes associadas à carga externa. Os pesquisadores mostraram que houve associação significativa entre a carga externa e o perfil metabólico urinário, com alteração das vias bioquímicas relacionadas à adaptação em longo prazo ao treinamento, além de mostrar possíveis mecanismos de avaliação da presença desses metabólicos e o risco de lesões musculares futuras em jogadores susceptíveis.
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REFERÊNCIAS
Quintas, G., Reche, X., Sanjuan-Herráez, JD et ai. Análise metabolômica da urina para monitoramento da carga interna em jogadores profissionais de futebol. Metabolômica 16, 45 (2020).
Vike NL, Bari S, Stetsiv K, et al. Resposta metabolômica à participação no futebol universitário: análise pré e pós-temporada. Rep. Sci . 2022;12(1):3091. Publicado em 23 de fevereiro de 2022.
Sakaguchi CA, Nieman DC, Signini EF, Abreu RM, Catai AM. Metabolomics-Based Studies Assessing Exercise-Induced Alterations of the Human Metabolome: A Systematic Review. Metabolites. 2019 Aug 9;9(8):164.
