O jejum intermitente é uma estratégia nutricional com foco principal na modulação corporal, envolvendo períodos de tempo com pouca ou nenhuma ingestão de alimentos e nutrientes, tendo diferentes protocolos, como jejum intermitente em dias alternados, jejum intermitente modificado e alimentação por tempo restrito. Alguns autores demonstram que ele é capaz de influenciar beneficamente no ciclo circadiano, na microbiota intestinal e no estilo de vida. Há algum tempo, essa estratégia vem ganhando cada vez mais espaço e notoriedade dentro da nutrição, levando a diversas discussões sobre a sua influência e eficácia, inclusive na massa magra.
Jejum intermitente – Mecanismos e impactos metabólicos
De alguns anos para cá, cada vez mais estudos sobre jejum intermitente vêm sendo realizados a fim de compreender melhor a sua influência no nosso organismo. Tinsley e Bounty (2015) associam a prática de jejum intermitente à redução do peso corporal, da gordura corporal, do colesterol total e dos triglicerídeos, tanto em indivíduos eutróficos quanto naqueles com excesso de peso.
Outros autores também apontam melhora da resistência à insulina e da regulação dos hormônios da saciedade. Patterson e Sears (2017) apontam também o jejum intermitente como modulador direto da microbiota intestinal, dos relógios circadianos e dos fatores de estilo de vida modificáveis, assim, responsáveis pela regulação metabólica relacionada aos efeitos benéficos do jejum.
Outro mecanismo interessante que foi observado sobre este tipo de estratégia é a capacidade de aumentar a expressão e atividade de enzimas influenciadas por variações no balanço energético, como a proteína quinase, responsável pela ativação da biogênese mitocondrial por meio do estímulo do PGC1-alfa.
Jejum intermitente e massa magra – Há impacto?
Há preocupação quanto à relação entre ambos, se o jejum intermitente é capaz de influenciar negativamente na massa magra. Uma recente revisão, conduzida por Keenan et al. (2020), demonstra que a massa magra geralmente é mantida na prática do jejum intermitente quando combinada à prática de treinamento de resistência, dependendo, inclusive, do fornecimento adequado de proteínas e do balanço energético total. A combinação do jejum com o treinamento de resistência também pode levar a uma redução da gordura corporal.
Akın et al. (2020) avaliaram o efeito do jejum Ramadã (um tipo de jejum realizado devido a crenças religiosas) na massa magra de idosos. Os autores concluíram que a realização do jejum não impactou no peso corporal, na função muscular e na massa magra dos idosos, de nenhum dos gêneros, principalmente, aqueles com um consumo proteico adequado.
Moro et al. (2016) demonstraram que homens em treinamento de resistência, que realizaram o jejum intermitente com protocolo de 16h/8h, tiveram redução da gordura corporal, com manutenção da massa magra e força muscular.
Como todas as estratégias nutricionais, para a realização do jejum intermitente é de suma importância que se tenha um adequado acompanhamento nutricional para garantia da ingestão recomendada de todos os nutrientes, de forma a evitar impacto negativo do protocolo, que se mostrou eficaz na redução da gordura corporal, sem comprometer a massa magra e a força muscular.
REFERÊNCIAS
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