A prática de exercícios físicos regulares promove diversas adaptações metabólicas. Esse hábito pode gerar o aumento da expressão de enzimas antioxidantes, como também induzir um aumento sistêmico na produção e liberação de citocinas com propriedades anti-inflamatórias, capazes de prevenir distúrbios crônicos associados à inflamação sistêmica de baixo grau. As micro-lesões do músculo esquelético, resultantes do exercício regular, levam ao recrutamento de citocinas como a interleucina-1 beta (IL-1β) e o fator de necrose tumoral alfa (TNF-α), responsáveis por iniciar e regular processo de reparo tecidual. Ao contrário do exercício físico regular, o exercício extenuante ou treinamento acima da intensidade pode levar ao comprometimento funcional das células, devido ao aumento do estresse oxidativo através da formação de espécies reativas de oxigênio e nitrogênio (ERON), provocando lesões musculares e processos inflamatórios.
O desequilíbrio desencadeado pelo excesso de exercício induz a peroxidação lipídica e promove alterações na contagem de células imunológicas e liberação de proteínas de fase aguda, como a proteína C-reativa (PCR). A produção de PCR é regulada por citocinas, principalmente IL-6, contudo, níveis constantemente elevados de IL-6 estão associados ao crescimento da musculatura lisa vascular, impactando no metabolismo lipídico, os quais podem contribuir para desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Além disso, a elevação nos níveis circulantes de proteínas citosólicas (aspartato aminotransferase – AST), alanina aminotransferase – ALT e creatina quinase – CK), reflete lesão celular e pode ser usado como marcador de dano induzido pelo exercício.
A modulação antioxidante e anti-inflamatória através da alimentação e suplementação torna-se eficaz nesse contexto. O pequi (Caryocar brasiliense Camb) é um fruto oleaginoso típico do Cerrado brasileiro, particularmente conhecido pelo seu alto valor nutricional. É rico em compostos antioxidantes, ácidos graxos, vitaminas e minerais, bem como apresenta um alto teor de lipídios, compostos fenólicos e carotenoides totais. O óleo de pequi vem sendo utilizado na prática esportiva, devido aos seus expressivos benefícios para o equilíbrio corporal do atleta. A alta concentração de carotenoides extraídos do óleo de pequi tem demonstrado propriedades anti-inflamatórias, danos no DNA e tecidos e anisocitose induzida pelo exercício.
Para demonstrar a eficácia do óleo de pequi em parâmetros metabólicos relacionados ao esporte, um estudo avaliou os efeitos antioxidantes do óleo de pequi contra os danos oxidativos induzidos pelo exercício. A amostra foi composta por 86 homens e 53 mulheres atletas voluntários corredores de rua. Os atletas tinham a opção de escolher a distância que cobririam (4-21 km) com base no tipo, intensidade e duração de seu treinamento semanal, a fim de evitar nenhum estresse físico adicional além do que era de costume. Realizaram a coleta de sangue, antes e após a corrida ao ar livre, em terreno plano, na qual foi oferecido 400mg de óleo de pequi em cápsulas por 14 dias. No modelo de análise, foram investigados os polimorfismos dos genes Mn – SOD – (Val9Ala), CAT (21A-T), GPX1 (Pro198Leu) e Hp para garantir a não interferência no resultado.
Como resultados do estudo, os autores ressaltaram uma redução significativa da anisocitose, o que evidencia o efeito eficiente protetor do óleo de pequi em reduzir a inflamação provocada pelo exercício agudo.
A suplementação de óleo de pequi pode ser uma estratégia nutricional eficiente para reduzir o estresse oxidativo e minimizar processos inflamatórios em atletas praticantes de modalidades esportivas extenuantes.
REFERÊNCIAS
MIRANDA-VILELA, A. et al. Association between interleukin 6 -174 G/C promoter gene polymorphism and runners’ responses to the dietary ingestion of antioxidant supplementation based on pequi (Caryocar brasiliense Camb.) oil: a before-after study. Genetics and Molecular Biology, v. 39, n. 4, p. 554-566, 2016.
MIRANDA-VILELA, A. et al. Dietary carotenoid-rich oil supplementation improves exercise-induced anisocytosis in runners: influences of haptoglobin, MnSOD (Val9Ala), CAT (21A/T) and GPX1 (Pro198Leu) gene polymorphisms in dilutional pseudoanemia (“sports anemia”). Genet. Mol. Biol., São Paulo, v. 33, n. 2, p. 359-367, 2010.
MIRANDA-VILELA, A. et al. Genetic polymorphisms influence runners’ responses to the dietary ingestion of antioxidant supplementation based on pequi oil (Caryocar brasiliense Camb.): a before-after study. Genes Nutr., v. 6, n. 4, p. 369-95, nov. 2011.
CERQUEIRA, F. M.; MEDEIROS, M. H. G. de; AUGUSTO, O. Antioxidantes dietéticos: controvérsias e perspectivas. Química Nova, São Paulo, v. 30, n. 2, p. 441-449, 2007.
